Número de mulheres que decidem não ter filhos cresce, mas o estereótipo continua

Aline Marinho
Box: Renan Monteiro
Box: Renan Monteiro

“Quando você vai engravidar?”, “Quando teremos um novo bebê na família?”. Essas são apenas duas das perguntas que várias mulheres escutam diariamente, principalmente quando ficam noivas ou acabam de se casar. A maternidade, com o passar dos anos, virou uma regra para a mulher e quando alguma delas responde que não pretende ter filhos, ainda há quem se espante e fique comovido com a decisão.

Porém, embora ainda haja o pensamento arcaico, o mundo é outro. Os séculos XX e XXI introduziram a mulher no mercado de trabalho e muitas conquistaram sua independência. A maternidade é um passo extraordinário na vida – mas se trata de uma escolha e não obrigação.

 

O mundo mudou

Durante muito tempo as mulheres não participavam ativamente do mercado de trabalho. Suas funções eram, principalmente, ligadas ao lar. Ser esposa, mãe e dona de casa tomava todo o seu tempo e disposição. Essa imagem da mulher persistiu e continua até hoje.

“Estamos vivendo uma geração onde as mulheres – principalmente as mais jovens – têm o foco em sua ascensão profissional, independência financeira e autonomia. Hoje em dia a mulher está mais voltada para conquistas pessoais. Nesse contexto não tem espaço para um filho”, afirmou a psicóloga Kelly Cabrera.

“A mulher ficou estereotipada, onde se tem a crença de que aquela que não vivencia a maternidade é incompleta em sua essência. Ser mãe é a expressão de um desejo e é preciso respeitar essa vontade de ser ou não. Não se nasce com o instinto maternal, trata-se de uma escolha pessoal”, complementou a psicóloga.

Segundo levantamento realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) por meio de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2014, o número de casais sem filhos aumentou de 13,5% para 18,8% em dez anos – 2004-2014.

Vale ressaltar que não há nada de errado em ser mãe, pelo contrário, é um desejo e uma satisfação para muitas mulheres. Porém, o respeito deve existir com quem decide não passar por essa experiência.

Cuidados com a saúde

As mulheres que decidem não ter filhos precisam tomar alguns cuidados – principalmente na hora de escolher o método contraceptivo. A consulta ao especialista é extremamente importante para decidir a melhor maneira de evitar a gravidez.

O método considerado definitivo, a laqueadura, deve ser muito bem planejado para não causar arrependimento posterior. A ginecologista e obstreta Lilian Fiorelli explicou que esse procedimento, por lei, só deve ser realizado em pacientes que já tiveram dois filhos ou mulheres com mais de 25 anos – caso seja casada, a mulher precisa que o parceiro concorde com a decisão.

O ginecologista e obstetra Elvio Floresti, afirma que outros métodos também podem ser eficazes. “Sempre orientamos, primeiramente, os métodos reversíveis e seguros, tais como anticoncepcionais hormonais e DIU’s. Mas a decisão sempre é do casal”, afirmou o ginecologista.

Lilian Fiorelli complementa e alerta os riscos em relação ao uso dos métodos hormonais. “A paciente precisa conversar com o médico antes de usar métodos hormonais, evitando assim, o risco de trombose. Não basta perguntar para uma amiga. É algo sério. Precisamos ver os antecedentes da paciente – se é hipertensa, se tem risco de câncer, entre outros aspectos – para poder indicar o procedimento ideal e correto para ela”, afirmou.

Os especialistas afirmam também que a decisão de não ter filhos não altera em nada a saúde da mulher e que o útero pode passar a vida inteira sem gerar um bebê e continuar da mesma maneira.

 

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