Associação trabalha para dar apoio aos pais e aos alunos portadores de necessidades especiais enquanto a inclusão caminha a passos curtos

Aline Marinho
Box: Renan Monteiro
Box: Renan Monteiro

A travessa dos Cajueiros, em Itapevi – região metropolitana de São Paulo – seria mais uma rua comum do município se não fosse por um detalhe: a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, popularmente conhecida como APAE.

A casa rosada de esquina, bem arborizada e repleta de pinturas manuais – que se misturam com as diversas pichações da fachada – destaca-se pela grandeza e simplicidade arquitetônica. Nada de exageros e luxo. Quem passa pelo local com um olhar desatento não percebe que naquela residência crianças portadoras de deficiência intelectual recebem uma porção calorosa de atenção e carinho todos os dias.

Localizada em uma área distante de Itapevi, cidade que atualmente possui pouco mais de 200 mil habitantes, a Escola de Educação Especial “Luz do Amanhã” possui cerca de 184 alunos com deficiências intelectuais, dentre elas Síndrome de Down, X-frágil e Autismo.

A instituição filantrópica, sem fins lucrativos, é um exemplo de inclusão social que tem como função, não apenas apoiar, mas preparar cidadãos para o futuro. Além disso, serve como exemplo para as escolas regulares que caminham lentamente para a excelência no atendimento de pessoas com deficiência.

 Uma grande família

O trabalho desenvolvido pela APAE – assim como as demais Associações do país – envolve uma relação muito intima entre profissionais, pais e alunos.

A Escola de Educação Especial “Luz do Amanhã”, que tem Elizeu Martins como Presidente e Benedita Morelli como diretora, recebe crianças desde os primeiros anos de vida. No berçário, mães e filhos, acompanhados de profissionais especializados, preparam os bebês para que elas possam ingressar no ensino especializado.

Nas pequenas salas de aula, que não possuem mais do que 15 alunos, professores instruem de diversas maneiras os mais variados tipos de alunos. A cidadania começa a ser trabalhada desde os primeiros anos do ensino fundamental.

As aulas de música e política fazem parte do diferencial. Os alunos aprendem na prática as funções exercidas pelo poder público e, além disso, praticam um ou mais instrumentos musicais. A conexão entre profissionais e alunos torna-se assim, familiar.

“O trabalho desenvolvido pela APAE é grandioso, mas infelizmente as pessoas não têm noção disso. O que ocorre na escola é um trabalho feito pelo coração. O amor gera tudo o que temos na instituição. A nossa equipe de profissionais dá o melhor de si para tornarmos os alunos cidadãos brasileiros”, declarou Benedita Morelli, diretora da APAE de Itapevi.

 Colaboração de parceiros

Como é uma instituição filantrópica, a APAE precisa de doações para manter suas atividades. “As pessoas ainda não têm a consciência de como funciona o trabalho com pessoas portadoras de deficiência intelectual, é um exercício muito caro, mas poucas pessoas tem sensibilidade”, afirmou Benedita Morelli.

“Qualquer pessoa ou empresa pode ajudar. Na APAE temos alguns convênios, mas para que possamos ajudar mais crianças, precisamos de mais colaboradores. Desenvolvemos um trabalho multidisciplinar, que requer a contratação de profissionais especializados, mas infelizmente, às vezes, isso não é possível”, contou Benedita.

Questionado sobre a colaboração do Governo Federal em relação às instituições, o MEC (Ministério da Educação) afirmou que os repasses federais são realizados ao poder público municipal, estadual e distrital.

“De acordo com o Decreto N° 6.571/2008, incorporado pelo Decreto n° 7.611/2011, os serviços de educação especial podem ser ofertados por meio de convênio entre os sistemas de ensino e as instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. Cabe ao Ministério da Educação a elaboração das diretrizes nacionais e o apoio técnico e financeiro para a implementação das políticas públicas, em regime de colaboração e parceria com os sistemas de ensino”, afirmou o Ministério.

O Jornal do Trem & Folha do Ônibus tentou contato com as representações nacional e estadual das APAEs para saber mais detalhes das instituições, porém, até o fechamento desta edição não obteve respostas.

Lei de Inclusão

No dia 6 de julho de 2015, a presidente Dilma Rousseff (PT) assinou a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – nº 13.143 – “destinada a assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoas com deficiência”. A lei, que entrou em vigor no início de 2016 é importante e um passo primordial para a igualdade. Porém, muitos desafios precisam ser ultrapassados.

Dentre os artigos, o 27 – Direito à Educação – afirma que “é dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar a educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação”. O contexto e a essência são inspiradores, mas na prática está bem distante da realidade.

Para a professora e psicóloga que acompanha crianças com deficiência intelectual, Priscila Guevara, a Lei de Inclusão é importante, mas ainda há muito o que fazer para que os escritos tornem-se realidade. “As escolas não estão preparadas para acolher alunos com necessidades especiais. O documento obriga as instituições a receber essas crianças, mas não tem infraestrutura e pessoas habilitadas para lidar com esse tipo de educação”, afirmou a professora.

Segundo Priscila, além das instituições, os profissionais de educação precisam absorver experiências para lidar com crianças portadoras de necessidades especiais. “Os professores devem se preparar. A faculdade de pedagogia não entra a fundo nesse assunto e os cursos especializados são extremamente caros. Não temos apoio para receber esse conhecimento de forma mais barata”, afirmou a Priscila.

 Posição do Ministério

Segundo o MEC, a pasta elabora diretrizes nacionais e dá apoio técnico e financeiro para execução da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva. Além disso, afirma que na última década houve grandes avanços tanto no número de alunos com deficiência matriculados na escola, como nas taxas de inclusão escolar.

“Conforme censo escolar 2015 há 930.683 estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação matriculados na rede pública e privada. Dessas matrículas, 81% são inclusivas. Se considerada só a rede pública, a taxa de inclusão é de 94%”, afirmou o Ministério.

Trabalho Conjunto

As pessoas portadoras de deficiências – seja ela física ou intelectual – precisam de mais carinho e atenção da sociedade. O governo e as associações precisam trabalhar em conjunto para que crianças, adolescentes e os próprios adultos tenham uma vida de qualidade e dignidade.

O preconceito, que ainda está incluso na sociedade, precisa ser desconstruído gradativamente. Os portadores de deficiência são pessoas comuns como quaisquer outras, apenas possuem particularidades especiais que devem ser respeitadas.

 

 

 

 

Categoria:

Leia também