Atire a primeira pedra quem nunca usou celular ao volante ou esteve com um motorista que apresentou o mesmo comportamento enquanto dirigia. Mesmo sendo uma infração gravíssima prevista no CBT (Código Brasileiro de Trânsito) – com 7 pontos na carteira e multa de R$ 293,47 -, os brasileiros ainda fazem o uso do aparelho nessa situação, aumentando as chances de provocar sérios acidentes.

O mau comportamento dos motoristas ocorre, na maioria das vezes, pelo simples fato de acreditar que pode controlar toda a situação ao seu redor, mesmo com a distração do aparelho, e que a fiscalização não é suficiente para evitar a impulsividade de fazer o uso enquanto está ao volante. Um ledo engano.

 

Admitindo o erro

Em uma pesquisa nacional realizada pela Arteris (empresa de concessão de rodovias do Brasil), 51,9% dos motoristas admitiram dirigir com o celular em mãos, ainda que raramente – esse percentual torna-se mais expressivo para os motoristas com idade entre 18 e 21 anos, residentes da região sudeste do Brasil.

Para o gerente técnico do Observatório Nacional de Segurança Viária, Renato Campestrini, esse tipo de comportamento ocorre porque “os motoristas têm uma falsa sensação de que nada vai acontecer”.

“Ao utilizar o celular, mesmo que seja por um período curto de tempo, o motorista acredita que consegue resolver o seu problema e que essa atitude não vai colocar em risco a própria vida e dos demais, como os pedestres, por exemplo”, comenta Campestrini.

 

Perigo à vista

Segundo informações da Arteris, alguns segundos de distração ao digitar um número de telefone ou mensagem – por exemplo, a uma velocidade de pouco mais de 100 km/h – podem levar o motorista a percorrer uma distância equivalente a quatro campos de futebol totalmente às cegas.

Segundo a neurologista Valéria Santoro Bahia, ao utilizar o aparelho celular enquanto dirige, o motorista não consegue estar atento ao que acontece ao seu redor.

“O motorista perde o estímulo e os reflexos são menores, não conseguindo agir rapidamente em uma situação de risco. Além disso, dependendo do que está sendo falado ou digitado, o emocional pode ficar abalado e causar um descontrole de quem está ao volante”, explica a neurologista.

Renato Campestrini comenta que pesquisas nos Estados Unidos revelaram que o ato de manusear o celular é tão perigoso quanto dirigir embriagado.

 

Assumindo a culpa?

No Brasil é muito difícil o motorista assumir a culpa em caso de um acidente – quem transita pelas principais avenidas de São Paulo já deve ter flagrado algumas ocorrências causadas por motoristas que estão utilizando o aparelho.

Por não admitir o erro, é mais difícil as autoridades terem um estimativa de quantas ocorrências foram provocadas devido a essa infração de trânsito.

Nos Estados Unidos está em discussão uma proposta para que o sigilo telefônico do motorista – ou pedestre – seja quebrado se houver envolvimento em acidente. Caso comprovado o uso ilegal do aparelho pelo condutor, o seguro pode se negar a pagar pelas avarias.

 

Aplicativos

Para tentar controlar a impulsividade dos motoristas, alguns aplicativos podem ser utilizados, como o ‘Mão no Volante’.

“Praticamente todos os aplicativos disponíveis hoje podem ser programados ou iniciados antes de dar partida no veículo. Mas, mesmo ciente da legislação e do perigo, muitos motoristas ignoram essa possibilidade e seguem adotando comportamentos de risco”, fala o gerente de Operações da Arteris, Elvis Granzotti.

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