Há milhares de anos, “reza a lenda” que não existia o regime patriarcal. Homens e mulheres veneravam vários deuses, entre eles, a Deusa – que representava a terra, com sua fertilidade e infinitas possibilidades de criação.

Naquele tempo, as mulheres desenvolveram dons como o artesanato, a agricultura e tantas outras tarefas que marcaram a evolução da humanidade. Elas não eram inferiores.

Então tudo mudou. Veio a Inquisição e muitas passaram a ser consideradas como bruxas. Outras se submeteram e tornaram-se criaturas castradas, completamente sem vontade e para sempre sujeitas aos homens – os varões valorosos.

Das que foram queimadas nas fogueiras às que são assassinadas, violentadas, assediadas e submetidas ao machismo dos dias de hoje, todos os dias – qual a distância, além dos anos que se passaram?

Mulheres que ganham menos nas empresas onde trabalham até mais que o colega “de calças” que fica ao seu lado.

Mulheres que são chamadas de malucas todo mês, quando as alterações hormonais provocadas pelo período menstrual as fazem manifestar vários sintomas. Quanta “frescura”, não é mesmo?

Mulheres silenciadas pelo medo. Que apanham do marido incessantemente – e seguem caladas, porque acreditam ser “assim mesmo”.

Mulheres que ouvem uma penca de “elogios” nas ruas todos os dias e não têm o direito sequer de ficarem intimidadas com isso.

Moças “comuns”, que andam de trem, metrô e ônibus e precisam cuidar a retaguarda, os ombros e os pescoços o tempo todo – porque a qualquer momento podem ser “surpreendidas” com a violação de seu corpo.

Moças que morrem nas mãos de seus namorados, noivos e maridos – por motivos que algumas vezes não ficam claros – mas que, afinal, como elas eram propriedade deles, não tinham “vontade própria” e nem direito de viver, por isso.

Moças que não podem beber na rua e voltar pra casa – sem que sejam consideradas presas fáceis.

Pergunte a qualquer uma dessas vítimas – das que ainda estão vivas – qual é a diferença entre o que ela passou e ser queimada na Inquisição. Você poderá se surpreender com a resposta.

Vivemos numa época em que as mulheres ainda são inferiores – apesar de todo o seu infindável e inquestionável valor. E não estamos na época da Inquisição.

Hoje, muitas começam a se levantar contra tudo isso que – absurdamente – ainda acontece.

E por incrível que pareça, ainda existem pessoas que criticam esse combate, essa atitude de se rebelar contra tantas infinitas violências.

Chamam essas mulheres de “feminazis” ou qualquer outro nome pejorativo. E esquecem que esse combate não é “falta do que fazer” ou “frescura”. Os números estão aí. Não há argumentos contra fatos.

Se não vale lutar por essa “causa”, pelo que valeria?

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