Habilidades simples: contas de somar e subtrair, interpretação de informações explícitas em textos pequenos e fáceis. Dos alunos brasileiros que estão no terceiro ano do Ensino Fundamental, mais da metade não consegue executar essas tarefas.

Os dados da ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização) de 2016 foram divulgados pelo MEC (Ministério da Educação) na semana passada e deixam claros os retrocessos – tanto na leitura quanto nos cálculos.

Com base nas informações da avaliação, o movimento Todos Pela Educação fez um levantamento sobre o atual ritmo de aprendizado dos pequenos. Se tudo continuar como está, o país só poderá se considerar minimamente eficiente na tarefa de alfabetizar seus pequenos alunos daqui a 76 anos.

Inquietante e triste. Muito se fala que quando a base falha, toda a sequência está comprometida. Mas nada deixa isso tão claro quanto as avaliações neste sentido.

O futuro do Brasil segue condenado. Enquanto as crianças não entendem os textos, não sabem escrever ou fazer continhas simples com números que vão de zero a 100, não se pode esperar um futuro promissor.

O mais vergonhoso é que muitos pais e mães dessas crianças não se dão conta do seu papel nesta jornada de formação. Com o trabalho exaustivo dos adultos, os pequenos não são incentivados a pegar em livros. Muito menos brincar aplicando os conceitos da Matemática.

Todo o trabalho da alfabetização recai então sobre a escola e o professor. Numa época em que, a cada dia que passa, esses profissionais enfrentam desafios completamente desproporcionais à motivação que sentem – seja pelo lado financeiro, seja pelo reconhecimento (dentro e fora das salas de aula).

O governo falha ao não disponibilizar qualidade e quantidade nos níveis que a população precisa. E o processo de indiferença que se instalou dentro das casas colocou as crianças num círculo completamente viciado: nada se aprende, perde-se o interesse, nada se aprende e assim sucessivamente.

A leitura se limita aos posts dos colegas nas redes sociais. As contas podem ser feitas na calculadora do celular. Não é necessário escrever corretamente – porque até mesmo o mercado de trabalho já está menos exigente: não há mão de obra qualificada disponível.

E vai piorar. É um verdadeiro exército de alunos que vão saindo das escolas sem ter o mínimo necessário para trabalhar – e muito menos para exercer a cidadania como se deve.

O pensamento lógico de quem lê este editorial pode ser: então está tudo perdido. Mas não. Comece com você. Procure um livro que possa te agradar – e leia. Tire os olhos das telas. Leia. Existe um prazer absoluto na leitura. E esse prazer pode ser resgatado em qualquer instante da vida. Comprometa-se a ler uma página por dia. Você vai ver. Em pouco tempo estará querendo terminar um capítulo, depois dois e assim sucessivamente.

Daí você vai poder começar uma revolução silenciosa, no dia que mostrar e transmitir esse prazer para uma criança do seu convívio. A mudança inteira começa neste simples gesto.

 

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