O aumento da temperatura global vai afetar –e muito– as cidades da costa brasileira, causando desde enchentes, deslizamentos e outros desastres naturais até a destruição de ecossistemas e prejuízos na economia.

As conclusões são do relatório “Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras brasileiras às mudanças climáticas”, apresentado no início de junho.

O estudo

O documento é resultado de uma extensa revisão e análise de publicações científicas, que permitiram traçar o sombrio cenário para as cidades da costa do Brasil.

“Está bem ruim mesmo. A situação está difícil, mas a função do relatório é apontar os cenários que podem acontecer”, resume Suzana Kahn, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Das 42 regiões metropolitanas dos Brasil, 18 estão localizadas na zona costeira ou são influenciadas por ela: Macapá, Belém, São Luiz, Fortaleza, Natal, Aracaju, Maceió, João Pessoa, Recife, Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, Vale do Paraíba/Litoral Norte de São Paulo, Baixada Santista, Joinville, Foz do Itajaí, Florianópolis e Porto Alegre – que, embora não seja oficialmente uma zona costeira, recebe grande influência dela pela sua localização nas margens da lagoa dos Patos.

O relatório mostra que essas regiões, que respondem por cerca de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, estão sujeitas a uma espécie de efeito dominó causado pelo aquecimento global.

As alterações

Conforme as temperaturas sobem em todo o planeta, calotas polares e o gelo dos oceanos vão derretendo, provocando a subida do nível do mar. Uma mudança que é perceptível em algumas regiões e que deve se intensificar ainda mais num futuro não muito distante.

O efeito mais flagrante da elevação do nível do mar são as inundações das áreas costeiras, que afetam diretamente a população e a infraestrutura urbana. O problema, porém, não se limita a isso, mostra o relatório.

Ao analisar os estudos, os cientistas do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas identificaram que também são alteradas as dinâmicas de fenômenos naturais, como os ciclos de chuvas. Esse tipo de mudança contribui para a intensificação de eventos extremos, como tempestades ou longos períodos de seca.

Além de afetarem a população, esses eventos ainda prejudicam a economia, atingindo a agropecuária e até a indústria.

Mais afetadas

As regiões Nordeste, Sudeste e Sul apresentam uma propensão maior para a ocorrência de desastres naturais.

A região Nordeste, que é tradicionalmente afetada pela seca, está sujeita a sofrer ainda mais com as estiagens. No Sul e no Sudeste há um risco combinado de secas e fenômenos hidrológicos.

Em termos de risco de mortalidade da população, um maior número de vítimas está associado a desastres hidrológicos, sobretudo na costa do leste do Nordeste, e nas regiões Sudeste e Sul. Os pesquisadores estimaram ainda quanto isso custaria para a economia dessas cidades e do Brasil como um todo.

Os maiores danos são no setor de infraestrutura, que são 59% do total. O prejuízo com casas e habitações são de 36% e os em instalações de saúde, ensino e outras 5%.

“Enchentes, inundações e temperaturas mais altas ainda causam uma série de problemas de saúde pública”, enfatiza Suzana Kahn.

*Folhapress

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