“Bela, recatada e do lar” não é o retrato da mulher brasileira ideal, mas sim, uma tentativa de imposição de valores ultrapassados

Bárbara Peres
Box: RENAN MONTEIRO
Box: RENAN MONTEIRO

Semana passada, a revista Veja publicou uma matéria que causou comoção geral na internet. “Bela, recatada e do lar” foi ironizado pelo público feminino, gerando polêmicas e debates por todos os lados. Apesar de mais um embate viral nas redes sociais, o movimento irônico não tinha a intenção de desmerecer mulheres que se identificavam com o perfil de Marcela Temer, como muitos pensaram. A comoção é contra estipular que “bela, recatada e do lar” é o reflexo da mulher ideal brasileira.

A sociedade e seus padrões
A mídia constantemente utiliza seu poder para estabelecer padrões a serem seguidos pela sociedade. Estes padrões, por vezes, parecem necessários para que o público entenda que pode se “encaixar”, quando, na verdade, só limita seu poder de escolha.
“Se a revista quis colocar esse ideal de mulher o colocou erroneamente no momento em que vivemos hoje. Essa história de ‘mulher ideal’ não existe mais”, afirma a psicóloga comportamental, Tânia Separati.
A empreendedora cívica Bianca Colepicolo alega que “a revista foi infeliz e aviltou as mulheres quando afirmou que aquele perfil é o ideal. Simplesmente não existe pessoa ideal – seja homem ou mulher. As pessoas, no geral, não aceitam mais essa imposição de padrões”.

Diversas opiniões
“Para mim, a reportagem mostra qual é realmente o papel da mulher dentro da família, mas também que isso é uma escolha e não deve ser uma imposição. Hoje em dia, algumas mulheres querem exigir seus direitos no grito e eu luto pelos meus direitos de joelhos dobrados. Tudo é questão de escolha, não de uma obrigação”, comenta a dona de casa, Rosângela Peres.
A estudante Adriana Minella diz que: “ao meu ver, o único propósito da matéria foi expressar a falta de imparcialidade da revista sobre ser bela, recatada e do lar, trazendo um conteúdo onde o estereótipo ideal de mulher é aquela que é ‘adestrada’”.
“Pensei pelo lado político mais que tudo. É uma manipulação da massa. Tiram o foco principal que é a porcaria que está a gestão pública brasileira para falar de futilidades”, completa Bianca Colepicolo.

O novo padrão
A sociedade sempre parece estar a procura de se padronizar, mas, aparentemente, o novo padrão é desconstruir padrões. “O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche dizia: ‘nada mais seguro do que ser igual a todo mundo. Da minha parte eu nego, prefiro ser uma metamorfose ambulante, nem pior, nem melhor, apenas diferente”.
“Acredito que como estamos vivendo uma crise séria de valores – agravada por uma falha gigante no sistema educacional – a sociedade tem essa tendência de buscar referências antigas. Por exemplo, buscamos igualdade de direitos, mas não educamos para isso. Por isso muitas meninas acham que ser feminista é expor o corpo ou transar livremente. Não aprendem que liberdade é uma conquista pessoal e não segue padrão de moda e muito menos de comportamento. Elas acabam escravas desta pseudo liberdade pois não tem condições de contextualizar suas escolhas. Como todos estão chocados e preocupados com tantas adolescentes grávidas e tanta vulgarização do corpo feminino e do sexo acontece essa vontade de voltar ao passado – a mulher recatada era melhor. Estamos buscando um equilíbrio mas ele só vai chegar com muito investimento em educação para proporcionar oportunidades iguais de desenvolvimento pessoal, profissional e social”, conclui Bianca.

 

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