Suzana Herculano-Houzel

Quando voltei ao Brasil após o doutorado, trabalhei por três anos em um museu de ciências onde uma equipe de 12 a 15 pessoas dividia uma sala planejada para apenas cinco. Não sei se foi ali que desenvolvi a habilidade de ignorar vozes que não me diziam respeito, mas certamente ela me foi muito útil.

A parte de não usar o nome é essencial. Nosso nome é provavelmente a palavra que mais ouvimos ao longo da vida em associação a nós mesmos, um conjunto de sons que indica que os próximos segundos nos dizem respeito diretamente. À força da repetição, o cérebro aprende a detectar o chamado e dar o alerta.

Como? Quando se está aguardando ouvir o próprio nome, ouvi-lo de fato aciona a porção medial do córtex pré-frontal. Como esta é uma parte do córtex fundamental ao planejamento de ações, seu recrutamento em resposta ao próprio nome diz ao cérebro que sua vez chegou.

Boa parte das vezes em que somos chamados, porém, não esperamos ouvir nosso nome; nossa atenção está focada em outro assunto. Como é que este som em particular consegue ainda assim roubar prioridade para si?

Mesmo inesperado, o som do próprio nome é suficiente para deixar o cérebro pronto para interagir com o mundo. Mas enquanto ele não for ouvido, o cérebro continua na sua.

 Suzana Herculano-Houzel  é neurocientista, professora da Universidade Vanderbilt e autora do livro “The Human Advantage” (Amazon.com) suzanahh@gmail.com

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