Mesmo com a participação pequena dos condôminos, as assembleias costumam ser lembradas pelas discussões sem fim e pelas desavenças.

O que era para ser um diálogo em que os moradores expõem suas opiniões às vezes dá lugar a disputas movidas a ofensas verbais e, em casos extremos, até agressões.

Com a proposta de corrigir esses dois problemas – o baixo quorum e as desavenças -, as assembleias virtuais, uma tendência nascente, passam a fazer parte do dia a dia de alguns condomínios.

O tema é polêmico e exige atenção às formalidades jurídicas antes de implantar o modelo, no qual os condôminos discutem e votam apenas pela internet.

Na prática

Útil para aumentar a interação entre o morador e o condomínio, o uso da internet nos empreendimentos residenciais ganha força.

O síndico Jacques Alexandre do Carmo, que administra três edifícios no Morumbi, conta que utiliza as assembleias virtuais em dois deles. Por meio delas, os moradores, cadastrados com um login e senha, são convocados a votar na página do condomínio. Os temas da “reunião” ficam abertos em grupos de discussão por um período determinado de dias.

Segundo Carmo, mais da metade dos condôminos costuma participar via on-line. Numa assembleia presencial, o número de participantes, de acordo com ele, fica em torno de 10%.

Sem tumulto

O comerciante Alberto Yuji, 48, morador de um prédio em Osasco, diz que a primeira votação digital no seu prédio ocorreu em março, para a implantação de uma brinquedoteca.  A obra foi aprovada e já está concluída. Ele diz que os moradores debateram a ideia e o horário de uso sem perder o foco e sem animosidades.

“Na assembleia on-line, você vê a proposta de orçamento das empresas e pode ligar para outra ou contestar. Na presencial, acaba havendo tumulto”, diz o químico Francisco Oliveira, síndico desse prédio em Osasco.

Aspecto negativo

Nem todo mundo que experimentou discussões on-line aprova o modelo, porém. É o caso do músico David Misiup, 50, que mora no Morumbi

“Foi feito um grupo só de moradores. Já participei, hoje não mais. Ele se desvirtua. Um fala mal do síndico, o outro do ex-síndico. As pessoas começam a se ofender.”

Polêmica

Se não são unanimidade entre os moradores, as assembleias virtuais também geram divisão entre administradoras de condomínio. Pioneira em assembleias digitais em condomínios residenciais, a administradora Manager conta com cerca de 50 de 400 condomínios com esse formato de decisão.

De acordo com o diretor da empresa, Marcelo Mahtuk, o sistema é usado para tratar de reformas e até de mudanças no regulamento interno, mas não em eleição de síndico. Há administradoras, porém, que se opõem às assembleias virtuais.

“Por que 12 porteiros e não dois? Por que o zelador ganha R$ 3.500 e não R$ 2.800. Isso não dá para você responder em uma assembleia virtual. Você tem de conversar na hora”, diz Hubert Gebara, diretor de administradora e vice-presidente de administração imobiliária e condomínios do Secovi-SP (sindicato do mercado imobiliário).

*Folhapress

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