Oferecer pequenas regalias aos funcionários, como horários flexíveis e salas de jogos no escritório, já é regra em empresas de tecnologia. Agora, a estratégia começa a ser adotada em outros setores como forma de garantir metas e comprometimento das equipes.

“Empresas tradicionais estão dando benefícios diferentes, como jornada especial na sexta-feira e um dia de home office por semana, para concorrer com as start-ups”, diz Polyana Macedo, coordenadora de recrutamento. “É um investimento. Eles aumentam um pouco o salário, dão regalias e podem ter um funcionário mais produtivo.”

Descontração

O escritório do GetNinjas, aplicativo que conecta clientes a prestadores de serviço, tem minibiblioteca, mesa de sinuca e churrasqueira. “As pessoas usam o momento de descontração para trabalhar mais, o que deixa a empresa eficiente”, diz o diretor-executivo Eduardo L’Hotellier.

O publicitário Denis Mercaldi, 26, é funcionário de uma agência onde pode trabalhar dois dias da semana em casa. Quando vai ao escritório, tem a opção de levar o cachorro junto. “É uma agência pequena, e a carga de trabalho é grande.”

A engenheira de produção Beatriz Almeida, 28, diz que considera bons os benefícios, apesar da cobrança por resultados. “Start-ups permitem crescimento rápido. Acho que equivale a um programa de trainee de empresa grande.”

Hora extra

Com mais opções de lazer, é comum que o funcionário passe mais tempo na empresa do que prevê seu contrato, o que pode resultar em hora extra. Segundo o advogado Angelo Antonio Cabral, a reforma trabalhista prevê que o empregado possa ficar no escritório por vontade própria. Para ele, a mudança é uma resposta às novas demandas, como home office.

Às vezes, porém, os pequenos luxos podem ser usados para compensar contratações sem carteira assinada, salários baixos e longas jornadas.

Joana (nome fictício), 30, trabalhou por mais de um ano em uma start-up de finanças e passou longe de sofás e mesas de jogos. “Se trabalhasse no sofá, alguém mandava voltar para a mesa.”

Quase sempre ela tinha que fazer hora extra nos fins de semana. A compensação era um happy hour por mês.

De acordo com o advogado Cabral, a ausência do controle de horas é interessante desde que o funcionário consiga cumprir as tarefas na jornada prevista em contrato.

“Quem trabalha em start-up está entre o empreendedorismo e o trabalho subordinado. Muitas vezes, a pessoa se vê como parte do negócio e não percebe que está trabalhando demais em uma empresa alheia.”

Cautela

Foi para expor os anúncios de vagas de emprego que tentam atrair candidatos com benefícios mirabolantes e salários diminutos que o diretor de arte Tiago Perrart e o publicitário Daniel Martins criaram a página “Vagas Arrombadas”, no Facebook.

“A vaga mais absurda que recebemos foi a de uma empresa que não dava benefícios da CLT com o argumento de que queria ‘formar empreendedores’ – e que vale-transporte e vale-refeição deixariam o colaborador acomodado”, diz Martins. A página, criada no início de agosto, já acumula quase 60 mil curtidas.

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